segunda-feira, janeiro 04, 2010

Lamento

Sobre meu destino discutem deuses minúsculos
Que de forma alguma merecem adoração
Cumprem seus papéis e eu
Cumpro o meu.

Com certeza venho de uma longa linhagem de um povo antiquíssimo
Daqueles que costumam habitar planícies
E, acima de todas as outras coisas,
Aprenderam a temer o lobo e a floresta.

Minha pele, na parte de dentro,
Está povoada de inscrições,
Num alfabeto antigo e milenar
Cujos sábios já estão cegos e de tato amofinado.

Há, no clã de que venho,
Grande sentimento de derrota,
Joelhos que pesam
E mãos que se repuxam de anzóis.

Costumávamos, em tempos bons,
Cobrir-nos de cinzas e danças para a chuva,
Mas hoje eu,
Apenas estou apto aos atos fúnebres.

Nasci sob os desígnios de um mau signo,
Com luas proscritas a reger meu céu.
Gritos na parte de fora dos ouvidos
Chamados e dores tumulares.

Além da certeza da orfandade cativa,
O sentimento de um pólo negativo no peito,
De ser o próprio pai e avô
Do próprio desespero de si.

Sabendo do fundo dos fundos,
Que se é o próprio povo,
Que em si começa e terminam as necessidades da tribo
O clã.

Ser-se só solidão
E viver sendo o próprio útero
Carregando
A luz do próprio aborto.

Tito de Andréa

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