sexta-feira, julho 07, 2006

Eu já não acredito em Newton

Acordo. Sento na cama, olho para os meus pés, me apoio nos joelhos e levanto, ando pelo quarto, estou de calças, dormi de calças. Não, nem dormi, passei a noite acordado, rolando, andando pelo quarto. Passei a noite acordando e pensando que dormia, apenas para pensar e lembrar que não estava dormindo. É noite.
Ando pelo quarto e preciso de um cigarro, mas não fumo. O que preciso é precisar de um cigarro, mas isso é apenas mais um pensamento. Não preciso de nada, preciso é dormir, deito. Acordo, acordo sem nem ter dormido, estou de calças, dormi de calças, sento na cama, olho para os meus pés, me apoio nos joelhos, levanto, acendo um cigarro, lembro que não fumo e apago o cigarro, penso que esqueci que não fumo. Acendo o cigarro, mas lembro que quero é dormir, apago o cigarro e deito. É tarde.
Acordo novamente. Sento na cama, olho para os meus pés, me apoio nos joelhos e levanto, estou de calças, sem camisa. Sinto frio. Fecho a janela. Ando pelo quarto e vejo que tem uma borboleta amarela na parede do quarto, olho para ela, sento na cama, e por um instante esqueço que preciso dormir, mas lembro do meu sono e deito. Durmo sem dormir por alguns minutos, quando lembro de acordar e acordo, ando pelo quarto, e lembro que esqueci de levantar da cama. Caio.
Acordo. Penso que finalmente dormi, mas ainda estou na cama, sento, olho para os meus pés, me apoio nos joelhos e levanto e ando pelo quarto. Ando pelo quarto e vejo a borboleta amarela. Ela dorme. Tento não acorda-la. Faço pouco barulho, mal respiro. Lembro que me disseram que borboletas só vivem um dia.
Fico a encarar a borboleta, ela dorme. Borboletas só vivem um dia. Borboletas só vivem por um dia. Ela faz um leve movimento de asas e eu me assusto, caio na cama. Ela vai voar, vai morrer longe, e eu não compreendo nada mais alem da borboleta. Deito, durmo sem dormir, acordo, pulo da cama. Ando pelo quarto.
A borboleta ainda está lá. Ando... Sento, fico a olhá-la. Ela faz um leve movimento de asas. Arranco suas asas, o resto de borboleta cai no chão, agoniza, se debate, piso nela de pé descalço. Sinto que a livrei de seu papel, tendo morrido não precisa mais morrer. Livrei-a de sua sina, jogo suas asas amarelas pela janela e elas voam para longe, já não morrerão mais.
Deito. Durmo. Adeus.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

surpresas desse tipo são o que me fazem acreditar em vida inteligente na internet.

6:49 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Uma das melhores coisas que já vi aqui. Acho que gosto mais desse do que daquele que vc me mostrou pelo msn. Ficou muito bom!

8:54 AM  

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