quarta-feira, maio 13, 2009

Pálido

Não será retribuído à criança seu punhado de terra.
Não é mais hora de falar de colheitas e gafanhotos,
Nosso tempo passou e soubemos chorá-lo.

É ontem que eu te amo.
É ontem que eu sei ódios e compreendo afetos.
É ontem que eu adoeço de febres e de humores falidos.
É ontem que eu grito meu sangue e fervo as têmporas.
Hoje é hora de zero.
Hoje é ruína sem beleza.

Não será feita nova oração para os desabrigados
Não seremos sementes de tempestade.
Sobrarão em flores nossos espinhos sorridentes e nossos soníferos sem mesuras
Porque não dissemos o que queríamos dizer um ao outro enquanto houve olho e dente e suor. Não haveria outra forma.
- Lágrima não encontraria lugar entre meus olhos e o resto do mundo.

Hoje não encontro mais as perdas que tinha.
Hoje sou paz e pássaro que passa.

É ontem que eu me encontro, ainda com mãos erguidas, dentes amostra, todo lutas por dentro e por fora o medo suado que guardava.
É ontem que eu aponto e digo quem sou.
Hoje é dia de dança renovada e emergente onda que estilhaça a rocha,trespaça a terra, invade a casa e rouba a paz da mãe sem filhos.
Hoje é dia de mar. Hoje as raposas casam.

Não retribuirão, à criança que fomos, nossos punhos cheios de terra.
Nossos dias segredados ao pé do ouvido.
Nossos ventos que criávamos por ser mais velozes que os dias.
Nada disso será dado.
Não será dado por não ter sido tomado. Demos de sorriso em riste, de carne lúcida. Demos porque não poderíamos aguentar por tanto tempo a culpa de poder dizer que o Sol fui eu quem fiz nascer hoje.

Não velarão nosso cadáver sem unção de padre.
Não chorarão nossa morte sem redenção.
Não guardarão nosso corpo exposto sem pudores.

Não se lembrarão de mim.
- Por favor.

Tito de Andréa

2 Comentários:

Blogger D.lv disse...

Nostalgia sobre o nada que não foi~

3:13 PM  
Blogger aluisio martinns disse...

Muito bom. Vale a pena ler e reler de novo.

4:59 AM  

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