quinta-feira, abril 05, 2007

Famigerinto.

E a fome que me come por dentre ferve o óleo de meus dias,
Fervo eu e meu inferno invernoso,
Fervemos juntos, fervilhando, circulando, moléculas que vibram e reviram-se em minha tumba.
E a fome que me come por dentro mói meus ossos e dentes.
A fome que me mata, desgasta e revive.
A fome que vive de mim;
Minha filha amada aconchega-se a meu peito e chora, derrama tuas longínquas lágrimas, derrama meu sangue que corre em ti; minha fome viva e pulsante, minha carne sedenta, meu sangue.

À terra.
À terra meu legado infiel.
À terra as cinzas de mim, as luas do que fui.
À terra meu inverno, meu verão.
À terra meu outono.
À terra.

A fome que me come por dentro nada me deixa.
Nada me dá.
Toma-me, me come, me leva.

Pega-me pela mão, pega-me pelos cabelos e me arrasta escada abaixo.
Não podemos passar disso.
Não vamos além, além do fim há mais fim.
Pega-me pela mão e leva-me corredor acima.
A(s)cenda-me em chamas.
Minha pele e unhas.
Nosso cheiro impecável.
Nossos pecados inodoros.

Em tua pele vivo eu.
Parasita errado, vivente.
A fome que ferve, queima e revira minhas intragáveis entranhas.
Minhas mortas metades.
Meu corpo já carcomido,
À fome que me come por dentro e vive de meus olhos secos.

À terra.
Minha querida e amada terra que me coma.
Não caibo, não valho, não sou.
Fui.
Vivido, vívido e morto.

Em tua carne moro eu,
Morro eu.
Morremos.

Morramos.

Tito de Andréa.

1 Comentários:

Blogger Rebeca Xavier disse...

entretanto jamais voltará ao mesmo lugar
será verme
e será fome
e morte
da fome de outras fomes

6:20 AM  

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