Siamês

Costurado a mim tenho um irmão.
Costurado ao meu lado,
comendo de meus restos.
Dividimos o mesmo reto
Dividimos a mesma mãe.

Costurado a mim tenho um outro eu,
vivendo a minhas custas,
pesando em minhas costas,
cuspindo minha saliva, mas
dividimos o mesmo coração.
O mesmo pai
defunto

Costurado a mim tenho uma lápide,
com o epitáfio de minha vida
(O peso de meus tempos)
doendo em meus joelhos
que de tanto reclamar;
correram.

Costurado a mim tenho um mundo inteiro
corroendo minha pele.
Uma ferida purulenta
e todos os meus vermes
Alimentando-se de mim.

Costurado a mim estou eu,
como se fosse um siamês rebelde,
rebelando-se contra s(m)eu corpo.
Dividimos o mesmo pescoço
a mesma dor de cabeça
O mesmo câncer.

Costurado a mim tenho um cadáver
e em minhas tripas ele apodrece
em minhas víceras ele arde.
Dividimos a mesma doença,
a mesma sentença.
Temos em nós dois:

A mesma morte viva.

Tito de Andréa