Pesadelo
Desertos são vermelhos
Cidades são santas
Santa sífilis comendo as coxas de Nossa Mãe,
Santa sífilis fodendo por dentro do corpo uma febre que não queríamos amar;
Que não queríamos amor.
Santa febre vermelha como desertos são
Santa doença escarlate - como desertos que se alargam horizonte adentro...
Ainda mais além...
Um mar...
Santa virgem mácula irmã
Santos somos e saberemos ser.
Ferveremos, em vermelhos céus desertos, nossas famílias e as guardaremos em urnas cavadas sob árvores que nos comerão.
Olhos abertos para reconhecer o messias.
Olhos abertos para reconhecer o incêndio;
Olhos abertos para sentir o tato das cinzas ainda em chamas...
Mas não queríamos amar.
Fevereiro chegará em carnes sujas
Suor, chuva e esperma/
Suor, suor, suor/
Suor, chuva e gozo.
Chegarão caravanas veladas
E não nos guardaremos à poesia morta.
Morrer e ser parte.
Ser parte e não ser todo.
Proteger os estilhaços de sua granada com a boca.
Proteger os estilhaços do seu peito.
Guardar a mão numa caixa
E pedir esmolas com olhos foragidos.
A cidade é um deserto vermelho (como são todos os desertos)
Que tomou morada entre meus olhos e o fundo do crânio.
Que tomou de assalto meu sorriso
Que estuprou meus ancestrais
Que violentou nossos velórios.
Só somos putas vermelhas de um deserto igual.
Somos velhas avós que não falam o idioma da casa.
Choraremos pragas ao visitante,
Cuspiremos sangue no olho.
Só somos putas vermelhas de um deserto igualmente vermelho.
Estenderemos porta adentro de nossas casas essa armadilha venenosa.
Não nos reconheceremos em nossos filhos e nossos filhos não nos reconhecerão em nós.
Não poderemos dizer que lá vai um rosto conhecido e amigável, pois não teremos sorriros que se retribuam.
Acabaram os apontamentos sorridentes, os bonsdias e os vãocomDeus,
Acabaram os encantos graciosos,
Porque não podemos transformar tesouros.
Mas fevereiro chegará com redentora chuva rósea.
Chegarão nossas festividades lentas.
Chegarão nossos arrependimentos, ressacas morais, máculas nas roupas, beijosdeadeus...
Não sorrirá mais a mãe
Não sorrirá mais o filho
Não sorrirão os pássaros, nem outro animal que se valha.
Infecções com dentes.
Infecções dentadas que morderão nossas cochas e poderemos ser infecciosos e impiedosos como sempre.
Um elefante de pedra.
Um leão-dragão de pedra que dança diante de Deus.
Que dança diante de Deus-pedra-gigante-comedor-de-coração-de-índio.
Não me pegarão vivo.
Não me pegarão vivo.
Máscaras de samurai de pedra.
Templo vermelho.
Cidadesífilisfeliz.
Não poderão me pegar vivo, porque não estarei onde seus olhos pedregosos alcançam.
Vestiremos uma nobre máscara mortuária para enganar o diabo.
Enganaremos enquanto andamos de mãos dadas e sorrisos.
Vestiremos nossos melhores trajes de morrer e viveremos.
A cidade é um cemitério
A cidade é um cemitério
A cidade é saudação ao mundo dos mortos.
Pesadelos são vermelhos como só os desertos sabem ser.
Me guarde ao lado do coração no bolso.
Me guarde ao lado da doença vadia que morde.
Larvas migras da terra,
Marquem-me.
Saudade mata.
Tito de Andréa
1 Comentários:
E como mata...
maravilhoso... como todos os outros. =)
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