O Enforcado
I - condenação
- Mil anos sobre a torre para teu corpo.
- Dois mil para os teus e aqueles que te amam.
- Vinte mil para teu Deus.
- A forca para teu fim.
Fala o júri.
- Mil anos apodrecendo para teu inferno
- Dois mil para os teus e aqueles que te amam.
- Vinte mil para teu Deus.
Cativo encarcerado conduzido frio e lento ao monte.
Chorou sangue e mel.
- Porque você foi menino e homem, e agora é tua hora de não ser.
- Porque comeu, respirou e amou, e é chegada a hora não mais fazê-lo.
- Porque batemos nosso martelo e teu corpo há de pender.
Dirigido vendado - claro - até sua cela, onde poderá arranhar paredes e murmurar fielmente.
Onde poderá perder os dentes e morder os pulsos.
Onde poderá esperar pela corda e pelo laço.
E terá a língua queimada e a carne amolecida.
- Espinhos para um rei.
- Pensa que é Cristo, herege?
- Tirem dele as armas. Mas tratem-lhe as feridas.
- Tratem-lhe as feridas com ervas mortas e alcóol puro.
- Tratem-lhe a pele que é como trapo vivo.
- Curem-no.
- Pois não o lançaremos vil à boca do peixe.
- Ao monstro apenas o melhor.
II - crime.
Pois cometeu o vil pecado.
E há de penar e pagar com sangue.
E há de chorar e moer os músculos.
E há de ser e ver ser.
Vencido enfim;
Entregue.
Pois fez tua casa entre as serpentes.
E entre serpentes criou tua cria.
Forjou, em metal escuro, tua alma.
Trabalhou e viveu e, para ti, não há mais espaço sob o céu.
Tampouco debaixo da terra.
Pois acreditou e profanou verdades.
E já é chegado o tempo em que veremos teu crime estampado em teus olhos de inocente acuado.
Pois é chegado o tempo de te fazer correr de porta em porta em busca de salvação.
Oferecer-te-ão veneno e mágoa.
Mas apenas nós temos tua vida em mãos.
E é à forca, que se dirige teu destino.
Chora enforcado, é chegada tua hora.
III - A via crucis.
Anda arrastando teu corpo, porque teu corpo é tudo que te resta e logo irá desfazer-se dele.
Anda e segue a voz de teu pastor, ovelha, segue-me até o monte onde sacrificar-te-ei diante do Senhor.
Torce a língua e enrijece o pescoço.
Não olha para o céu porque ele não te pertence.
Apenas olha para o chão, cai e ele te segurará.
Cai quantas vezes quiser, cair será teu legado.
Caminha, enforcado, é finito teu tempo.
Caminha, enforcado, é decidido teu destino.
Caminha, enforcado, costumava ser, logo não mais.
Anda arrastando tua pedra imensa e cava dentro dela com uma colher para fazer teu último refúgio.
Cava a pedra com a colher e cria na pequena montanha que amarraram a ti uma caverna para teus filhos.
Cava, enforcado, é pouco teu tempo.
IV - O lamento.
Pois eu, réu culpado e convicto, pequei.
Perdoa-me padre, para que eu vá em paz.
Deixa-me ir em paz padre, porque nem sei o que fiz.
Deixa-me livre padre, porque a forca é minha amante e flerta comigo à noite.
Perdoa-me padre. Nem que a penitencia seja infinda, nem que seja a perdição de mim, deixa-me crer perdoado e perdoado serei.
Olha para mim, padre, sou finito e meu fim vem vindo.
Dá-me teu perdão padre, e Ele dar-te-á ouvidos.
Eu não sabia o que fazia, padre.
Eu não amo a forca e para mim ela é como mulher indesejada;
Infecta e rabugenta.
Dá-me outro fim, padre.
Mas não me deixa desamparado.
Padre, segura minha mão enquanto meu corpo pender.
Padre, segura minha mão enquanto minha alma queimar.
Padre, perdoa-me, porque eu pequei e nem sei qual foi meu pecado.
- Vai meu filho, vai em paz, porque tua alma não estará.
E em verdade vos digo: hoje mesmo ao anoitecer estará colhendo grãos para o jantar do diabo.
V - O pender.
Sobe o corpo vivo para descer já sem vida.
Sobe a alma condenada para descer pronta e sedenta por punição.
Sobe condenado, e morre feliz.
Vai diante dele seu carrasco e amigo sedutor.
De cabelos cobreados e pele castanha.
De olhos vivos e coloridos.
Lábios rosados e voz de serpente.
Assim belo e jovial vai o carrasco diante do enforcado.
Assim sobe o carrasco o monte diante do réu.
Assim amarra ao pescoço do réu a corda, o carrasco.
- Tuas últimas palavras serão ditas por terceiros.
- Teus últimos atos agidos por outros.
- Teu corpo foi condenado e tua alma logo o será.
- Mil anos para ti, dois mil para os teus e os que te amam.
- Para teu Deus vinte mil anos de lamúria.
Morre contigo teu pecado.
Apenas torça o corpo, agonize a pare.
Pende o corpo.
Direita e esquerda até parar no centro.
O horror nos olhos daquele que olhou nos olhos da vida e disse adeus.
- Limpem o corpo e as lágrimas do rosto e preparem o funeral.
- Hoje há dança e alegria no céu.
Tito de Andréa
- Mil anos sobre a torre para teu corpo.
- Dois mil para os teus e aqueles que te amam.
- Vinte mil para teu Deus.
- A forca para teu fim.
Fala o júri.
- Mil anos apodrecendo para teu inferno
- Dois mil para os teus e aqueles que te amam.
- Vinte mil para teu Deus.
Cativo encarcerado conduzido frio e lento ao monte.
Chorou sangue e mel.
- Porque você foi menino e homem, e agora é tua hora de não ser.
- Porque comeu, respirou e amou, e é chegada a hora não mais fazê-lo.
- Porque batemos nosso martelo e teu corpo há de pender.
Dirigido vendado - claro - até sua cela, onde poderá arranhar paredes e murmurar fielmente.
Onde poderá perder os dentes e morder os pulsos.
Onde poderá esperar pela corda e pelo laço.
E terá a língua queimada e a carne amolecida.
- Espinhos para um rei.
- Pensa que é Cristo, herege?
- Tirem dele as armas. Mas tratem-lhe as feridas.
- Tratem-lhe as feridas com ervas mortas e alcóol puro.
- Tratem-lhe a pele que é como trapo vivo.
- Curem-no.
- Pois não o lançaremos vil à boca do peixe.
- Ao monstro apenas o melhor.
II - crime.
Pois cometeu o vil pecado.
E há de penar e pagar com sangue.
E há de chorar e moer os músculos.
E há de ser e ver ser.
Vencido enfim;
Entregue.
Pois fez tua casa entre as serpentes.
E entre serpentes criou tua cria.
Forjou, em metal escuro, tua alma.
Trabalhou e viveu e, para ti, não há mais espaço sob o céu.
Tampouco debaixo da terra.
Pois acreditou e profanou verdades.
E já é chegado o tempo em que veremos teu crime estampado em teus olhos de inocente acuado.
Pois é chegado o tempo de te fazer correr de porta em porta em busca de salvação.
Oferecer-te-ão veneno e mágoa.
Mas apenas nós temos tua vida em mãos.
E é à forca, que se dirige teu destino.
Chora enforcado, é chegada tua hora.
III - A via crucis.
Anda arrastando teu corpo, porque teu corpo é tudo que te resta e logo irá desfazer-se dele.
Anda e segue a voz de teu pastor, ovelha, segue-me até o monte onde sacrificar-te-ei diante do Senhor.
Torce a língua e enrijece o pescoço.
Não olha para o céu porque ele não te pertence.
Apenas olha para o chão, cai e ele te segurará.
Cai quantas vezes quiser, cair será teu legado.
Caminha, enforcado, é finito teu tempo.
Caminha, enforcado, é decidido teu destino.
Caminha, enforcado, costumava ser, logo não mais.
Anda arrastando tua pedra imensa e cava dentro dela com uma colher para fazer teu último refúgio.
Cava a pedra com a colher e cria na pequena montanha que amarraram a ti uma caverna para teus filhos.
Cava, enforcado, é pouco teu tempo.
IV - O lamento.
Pois eu, réu culpado e convicto, pequei.
Perdoa-me padre, para que eu vá em paz.
Deixa-me ir em paz padre, porque nem sei o que fiz.
Deixa-me livre padre, porque a forca é minha amante e flerta comigo à noite.
Perdoa-me padre. Nem que a penitencia seja infinda, nem que seja a perdição de mim, deixa-me crer perdoado e perdoado serei.
Olha para mim, padre, sou finito e meu fim vem vindo.
Dá-me teu perdão padre, e Ele dar-te-á ouvidos.
Eu não sabia o que fazia, padre.
Eu não amo a forca e para mim ela é como mulher indesejada;
Infecta e rabugenta.
Dá-me outro fim, padre.
Mas não me deixa desamparado.
Padre, segura minha mão enquanto meu corpo pender.
Padre, segura minha mão enquanto minha alma queimar.
Padre, perdoa-me, porque eu pequei e nem sei qual foi meu pecado.
- Vai meu filho, vai em paz, porque tua alma não estará.
E em verdade vos digo: hoje mesmo ao anoitecer estará colhendo grãos para o jantar do diabo.
V - O pender.
Sobe o corpo vivo para descer já sem vida.
Sobe a alma condenada para descer pronta e sedenta por punição.
Sobe condenado, e morre feliz.
Vai diante dele seu carrasco e amigo sedutor.
De cabelos cobreados e pele castanha.
De olhos vivos e coloridos.
Lábios rosados e voz de serpente.
Assim belo e jovial vai o carrasco diante do enforcado.
Assim sobe o carrasco o monte diante do réu.
Assim amarra ao pescoço do réu a corda, o carrasco.
- Tuas últimas palavras serão ditas por terceiros.
- Teus últimos atos agidos por outros.
- Teu corpo foi condenado e tua alma logo o será.
- Mil anos para ti, dois mil para os teus e os que te amam.
- Para teu Deus vinte mil anos de lamúria.
Morre contigo teu pecado.
Apenas torça o corpo, agonize a pare.
Pende o corpo.
Direita e esquerda até parar no centro.
O horror nos olhos daquele que olhou nos olhos da vida e disse adeus.
- Limpem o corpo e as lágrimas do rosto e preparem o funeral.
- Hoje há dança e alegria no céu.
Tito de Andréa
2 Comentários:
Caralho, ontem tu tava...
desculpa, mas eu não consegui não me espantar com a mudança no layout do blog o.o
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