quinta-feira, janeiro 08, 2009

Renovável

O corpo, às vezes, é menor que o desconfortável sentimento. É menor que os giros que damos por dentro. A alma em um liquidificador.

A larva encasulada move-se em espasmos e o corpo não responde.
Apenas transpira o frio e tenciona os músculos.

Noite insone.
Há alguém olhando do escuro para o dentro.
- É que me dói, sabe?

Há algo de novo em dias quentes. Algo que não pronunciaremos em voz alta, mas calamos em nossos olhares.
Há algo de novo em dias quentes e não ousaremos quebrá-lo com uma traição audível.

Guardamos nossas facas para silenciar-nos.
Guardamos nossas armas para ferir uns aos outros.

Serpentes entrelaçadas num coitomorte.
Uma dança da desvida.
Um rito de sangue e um pacto de vida.

O corpo, às vezes, é menor que a desconfortável luz que brota no centro do peito. Um sol friorento e azulado que empalidece a pele e aperta o estômago.

- Vê? Primeiro uma perna treme sem que seja sentida; depois todo o corpo acompanha.
Primeiro a perna, depois as duas e então o tronco e os braços e a língua encarcerada numa boca rígida de mandíbulas cerradas.
Por último a mastigação e a digestão.

Há algo de novo em dias quentes.
Algo que não permitiremos que fuja nem que morra.
Algo que repartiremos como irmãos e partiremos em pedaços pequenos que caibam na boca.
Algo que levaremos ao café para que se torne aprazível ao paladar e possamos comer sem remorso.

Há algo de gasto e eternamente novo em dias quentes.
Há algo de alcova na pele.
Um cheiro quente e modorrento.

E não ousaremos traí-lo...

Novamente.

Tito de Andréa

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

"É menor que os giros que damos por dentro"




usar 'olhares furtivos' é muito clichê. pelo menos pareceu.

beijos na alma.

6:09 AM  
Blogger Horla disse...

Você tem razão, Ramilla, cortei.

6:29 PM  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial