terça-feira, novembro 28, 2006

eu e Ele.

Ando rápido e desordenadamente por uma cidade que faz parte de mim. Sou parte da cidade. Cenário errante. Cambaleio e caio para minha calada multidão. Tiro o chapéu que não uso e cambalhoto. Babo sobre mim, mijo, vomito a comida que não comi. Em mim apenas liquido. Flácido e magro. Unhas sujas e dentes marrons. Couro e pêlos queimados. Pele sobre osso. Rugas e pó. Sou parte funcional do peso. Caio e saltimbanco para minha lamuriosa e sussurenta multidão. Sou o velho que fede. O fedor. Meu cheiro é sujo.

Arranco de mim a visão que me é entregue numa bandeja suja. Uma pintura sem molduras. Arranco de mim, como uma roupa apertada. Levo tempo para notar que o bêbado que se lança às pedras de calçamento, não sou eu. Divido-me em dois. Não penso. Vejo com olhos abertos – mas não muito, tenho medo que ele me note – apenas observo enquanto ele berra. Urra. A baba escorre de sua boca. Nada mais ele é.

O mundo pára para ver o bêbado. O bêbado que é um velho sujo. O Bêbado que é uma pedra de calçamento que salta e fala. Todos os olhos e risadas voltadas para ele, Seu merecido monólogo.

Entro em sua pele viscosa e poeirenta. Entro e berro com sua voz grunida. Berro seu monólogo sujo de todo o tipo de coisa que passa por sua garganta Sujo de bêbado. Alguém me tire daqui.

- Respeitável público. Cá estou para fazer de ti um alguém em especial. Para dar-te aquilo que pede a Deus. Para te pegar pela mão e te jogar em teu mundo. Vejam-me e apontem. Riam-se de mim. Babem-se como eu o faço. Berrem-se e Urrem-me. Cá estou. Com a razão de dar a vocês as minhas risadas de ódio. Sou seu macaco humano. Sou sua pedra que fala, escutem e vivam. Calem-se e vivam. Sentem-se. Andem. Falem. Olhem. Vi toda a vida com meus olhos amarelos e a vida me bebeu. O que vejo agora é com os olhos de um vômito. Bebam-me. Morram-me.

Cato moedas no chão – esse é o único que me abraça como um pai – e me vou.

A cidade é parte de mim – o Bêbado sou eu –

Eu sou sua pedra mais velha – bem no meio do seu rim -. Sou sua doença sorridente. Eu sou seu mais fiel palhaço.

Dê-me sua coroa mais nova. Chame-me de rei.


Tito de Andréa

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