terça-feira, dezembro 05, 2006

Assassínio

Minhas mãos tremiam... Tremiam... Não meus olhos, esses jamais ousaram tremer, sempre foram parados, não cegos, apenas firmados em um ponto dentro da alma de tudo. Meus olhos sempre foram parados, mas minhas mãos tremiam. Eu todo tremia. Minh’alma, minh’lama. Em minhas veias naquele momento corria o mais quente dos sangues. Corria verde e lento, fervendo minha pele e poluindo meus poros. Corria em mim um sangue ocre e fétido. Corria em mim o sangue de meu assassínio. Corre em mim um sangue feito de carne. Na minha carne corre mais carne, e nos meus ossos correm mais ossos e mim correm os meus temores pesados. Diabos. Que me carreguem para além de minha tumba branca, quero ser enterrado em uma cova rasa, para que logo que cavem possam encontrar meu cadáver retorcido. Quero ser enterrado ainda com um resto de vida para sentir em meus pulmões epilépticos um pouco de areia e água. Quero sentir o gosto do sangue enquanto mastigo minha língua. Quero o cheiro da minha carne podre por todo o quarto. Quero meu vômito estampado no teto. Meu sangue em suas casas. Quero minha alma, minha lama em todos os pedaços de mim. Pedaços espalhados por toda parte. Carreguem-me para longe de minha além vida. Meu assassínio ácido e corrosivo. Meu assassínio, minha vítima. Matei a vida que pulsava em suas veias e minhas mãos tremiam. Quero ser levado para o longe dos mortos. Meus ombros que são do tamanho do mundo que carreguem o céu e o inferno. Que abracem as corredeiras. Meus ombros que são do tamanho do homem que carreguem o sangue. Quero que me enterrem vivo. Quero ser um morto lépido. Quero ter o sorriso dos Sátiros. Quero ter mãos que tremem e olhos que ficam parados. Quero cometer o vil crime do assassínio. Levem-me amarrado. Entreguem-me ao carrasco. E escolham o mais feliz para arrancar minha cabeça manchada de ódio.

Tito de Andréa.

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