segunda-feira, dezembro 18, 2006

Vivo como um Deus morto.

Cato os restos em meus bolsos e espalho sobre a mesa. O rato ainda pulsa e suas patas se mexem em direção a toda parte. Partido de corpo e alma. Partido completo. Tiro de meus sapatos aquele sangue preto. Coágulos do intestino de um carrapato. Sangue sem matéria. Água. Tomo os pedaços de meus pecados e como-os. Frios. Como-os com fome, gula. Como-os com devoção. Aceita-os. Aceita esses nobres pecados, aceita minha perdição. Ergo minha refeição pecaminosa ao Deus que vive em meu estômago. Ele pula e se retorce. Meu arquiteto verminoso. Meu Criador parasita.
Toma meu inferno nos braços e nina-o. Ama-o. Ele sou eu. O rato por sobre a mesa sou eu. A ave morta de pescoço partido sou eu. Aceita essa lama que escorre de mim. Come-os também. Faz-me Tu. Ser-te-ei. Saber-te-ei. Como essa superior forma de vida e sou-me. Calo os ratos de meu esgoto. Calo as torneiras de minha língua. Leva-me de lá para onde estás. Faz de mim o teu rato e parte-me por sobre a mesa.
Prova com a ponta da língua esses pesadelos que te dou. Prova-os e me diz se estão quentes e bons. Usa-os. Ama-os. Ame-me.

Meu caloroso e servil Mestre. Faz-me finito ao infinito. Amém.

Tito de Andréa

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