Sapienti Sat
Ontem voltou a chover. E eu vi o momento inicial, quando a chuva tornou a desabar. Eu sou testemunha do vento e da tormenta.
Eu estava lá.
Estava lá quando desabou o céu e não tínhamos mais um homem de braços fortes para segurá-lo, não tínhamos mais Deus nem mais Diabo a quem culpar.
Matamos o último.
Eu fui aquele quem construiu a forca da última divindade.
Eu a vi, erguida em (des)glória, com os olhos abertos. Eu a vi se agitando em convulsões febris até - bruscamente - parar e morrer.
Meu irmão, o coveiro, foi aquele que a enterrou.
De modo que estou ligado a isso.
De modo que sou o construtor dessa nova liberdade amarga que vivemos, e em minha carne familiar estamos todos encerrados.
De modo que dos olhos do último Deus consegui arrancar um lampejo de vida, e vi essa tal nova vida que brilhava ser convulcionalmente apagada. Assisti ao enforcamento do último Cristo com olhos cheios de saliva e a boca amarga. Sempre um sorriso.
Meus calos nos dedos ainda doem.
Construí aquela forca em dois dias, e era uma forca imensa.
Construí aquela forca como quem constrói um monumento divino a uma nova e feliz Divindade. Uma nova e vibrante forma de contar a história. Uma nova e inovadora forma de criar a verdade. Aquela forca foi a ultima verdade construída.
E o corpo que meu irmão enterrou em uma cova rasa é a expressão máxima dessa verdade. A verdade final e reveladora.
Todo meu corpo treme com ela.
Todo meu ser se inunda com essa verdade e meus músculos tremem à noite, queimo em ardores e a febre se espalha por toda a minha casa e em um novo culto a mim mesmo engulo a minha língua e tremo mais e mais e mais até ter-me envolto em uma nova dança a mim.
Aquele rebento enforcado teria se orgulhado de mim ao saber o que fiz com o lampejo de vida que ele entregou a mim por falta de algo melhor para fazer com ele.
Transformei a vida que ele me deu em mais vida.
E mais e mais e mais.
Até explodir a vida em uma morte reveladora.
Morte santa.
Santíssima expressão do fim.
Amanhã construirão a minha forca.
E serei eu a nova Divindade a morrer.
E passar o novo lampejo de uma nova verdade a meu suado executor.
- Deus meu, Deus meu...
Tito de Andréa
Eu estava lá.
Estava lá quando desabou o céu e não tínhamos mais um homem de braços fortes para segurá-lo, não tínhamos mais Deus nem mais Diabo a quem culpar.
Matamos o último.
Eu fui aquele quem construiu a forca da última divindade.
Eu a vi, erguida em (des)glória, com os olhos abertos. Eu a vi se agitando em convulsões febris até - bruscamente - parar e morrer.
Meu irmão, o coveiro, foi aquele que a enterrou.
De modo que estou ligado a isso.
De modo que sou o construtor dessa nova liberdade amarga que vivemos, e em minha carne familiar estamos todos encerrados.
De modo que dos olhos do último Deus consegui arrancar um lampejo de vida, e vi essa tal nova vida que brilhava ser convulcionalmente apagada. Assisti ao enforcamento do último Cristo com olhos cheios de saliva e a boca amarga. Sempre um sorriso.
Meus calos nos dedos ainda doem.
Construí aquela forca em dois dias, e era uma forca imensa.
Construí aquela forca como quem constrói um monumento divino a uma nova e feliz Divindade. Uma nova e vibrante forma de contar a história. Uma nova e inovadora forma de criar a verdade. Aquela forca foi a ultima verdade construída.
E o corpo que meu irmão enterrou em uma cova rasa é a expressão máxima dessa verdade. A verdade final e reveladora.
Todo meu corpo treme com ela.
Todo meu ser se inunda com essa verdade e meus músculos tremem à noite, queimo em ardores e a febre se espalha por toda a minha casa e em um novo culto a mim mesmo engulo a minha língua e tremo mais e mais e mais até ter-me envolto em uma nova dança a mim.
Aquele rebento enforcado teria se orgulhado de mim ao saber o que fiz com o lampejo de vida que ele entregou a mim por falta de algo melhor para fazer com ele.
Transformei a vida que ele me deu em mais vida.
E mais e mais e mais.
Até explodir a vida em uma morte reveladora.
Morte santa.
Santíssima expressão do fim.
Amanhã construirão a minha forca.
E serei eu a nova Divindade a morrer.
E passar o novo lampejo de uma nova verdade a meu suado executor.
- Deus meu, Deus meu...
Tito de Andréa
1 Comentários:
...por que me abandonastes?
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