Epifania de uma vida
Ah, tenho ouvido falar de tetos nus e paredes que descascam. Portas que rangem e árvores secas; mas afasta de mim teus maus presságios. Arranca de mim teus dedos frios.
Ah, que me lembro de quando a tarde e o sol se confundiam ao som do piano e corríamos por paredes fortes e olhos atentos.
Ah, que me lembro de quando subíamos em árvores e éramos mais fortes que tudo.
Ah, que me lembro da água fria e das mangas quentes.
Tenho ouvido falar de imagens que sangram leite e mel.
Tenho ouvido falar de lágrimas nodosas que gemem à noite.
Mas afasta de mim teus maus presságios, lentamente, por favor.
Pois toquei com as mãos inteiras a fria escadaria de mármore áspero e meu tato inteiro foi amor.
Pois abracei com os olhos as paredes e as portas que deixam o sol passar e ouvi de olhos abertos às teclas amarelas do piano negro.
Pois nasci, cresci e tive tempo o bastante entre o céu e a terra para presenciar a casa onde Deus deixou suas marcas. E ainda nela pudemos enxergar nas colunas rachadas seus arranhões de Deus nauseabundo que morria e queria deixar um epitáfio para alguém.
Ah, que me faço mil outros mas volto sempre a mim.
Ah, que a saudade de um tempo tão deles me invade e eu me faço eles e me dói também a dor que não é minha.
Ah, que uma infância tão outra me bate a porta e eu caio de joelhos diante da maravilha do que não fui e posso tocar com as mãos inteiras as dádivas que me deram.
Ah, afasta de nós teus maus presságios e volta de onde veio.
Ah, pois subimos um a um, e um a um abraçamos a vida com a alma cheia de ternura e calor.
Ah, pois temos ouvido falar de tempos que não voltam, onde Deus era e nós éramos também.
Ah, pois temos ouvido falar de maus presságios e paredes e tetos e imagens.
Pois toquei com o corpo inteiro a vida inteira.
E me afoguei.
Tito de Andréa
Ah, que me lembro de quando a tarde e o sol se confundiam ao som do piano e corríamos por paredes fortes e olhos atentos.
Ah, que me lembro de quando subíamos em árvores e éramos mais fortes que tudo.
Ah, que me lembro da água fria e das mangas quentes.
Tenho ouvido falar de imagens que sangram leite e mel.
Tenho ouvido falar de lágrimas nodosas que gemem à noite.
Mas afasta de mim teus maus presságios, lentamente, por favor.
Pois toquei com as mãos inteiras a fria escadaria de mármore áspero e meu tato inteiro foi amor.
Pois abracei com os olhos as paredes e as portas que deixam o sol passar e ouvi de olhos abertos às teclas amarelas do piano negro.
Pois nasci, cresci e tive tempo o bastante entre o céu e a terra para presenciar a casa onde Deus deixou suas marcas. E ainda nela pudemos enxergar nas colunas rachadas seus arranhões de Deus nauseabundo que morria e queria deixar um epitáfio para alguém.
Ah, que me faço mil outros mas volto sempre a mim.
Ah, que a saudade de um tempo tão deles me invade e eu me faço eles e me dói também a dor que não é minha.
Ah, que uma infância tão outra me bate a porta e eu caio de joelhos diante da maravilha do que não fui e posso tocar com as mãos inteiras as dádivas que me deram.
Ah, afasta de nós teus maus presságios e volta de onde veio.
Ah, pois subimos um a um, e um a um abraçamos a vida com a alma cheia de ternura e calor.
Ah, pois temos ouvido falar de tempos que não voltam, onde Deus era e nós éramos também.
Ah, pois temos ouvido falar de maus presságios e paredes e tetos e imagens.
Pois toquei com o corpo inteiro a vida inteira.
E me afoguei.
Tito de Andréa
1 Comentários:
e o tempo presente e passante
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