quarta-feira, setembro 05, 2007

O Lamento de Prometeu

Quem tem coragem de saber-se forte?
De levantar as correntes e parti-las?
Quem ousa levantar a voz e sair do Sabbath?

Este é o meu testamento.

Deixo para vocês minha forte, firme e rochosa desesperança.
Meu desamor maledicente e doente paternidade.
Deixo para vocês meu toque leproso, meu ranhoso e nodoso toque.
Ódio fraternal.

Faço minha cama na porta de entrada, onde é frio e desaconchegante.
Faço minha morada no topo do céu.
Ar, tenho pouco.
Nada para ti.

Quem tem coragem de amamentar uma fera?
De dormir de olhos abertos?
Quem ousa chamar a vida pelo seu verdadeiro nome?

Àqueles que se debatem e se partem e são mães e pais de seu medo.
Àqueles que se geram em seus ventres e dentro de seu próprio pesar encontram mais abismos,

Pois sonhei com uma montanha e era abissal.
Pois sonhei com um sol e era invernoso.

A vocês meu testamento.
A vocês meus tesouros desnudos cheios de sobras e veneno.
A vocês meus males e tudo que me foi de bom e pior.
Sempre dos males o melhor.
De mim para mim.

O tempo de cantar chegou!

Tito de Andréa.

terça-feira, setembro 04, 2007

O Azilo dos Santos.

O martelo bate.
Bate
Batebatebate.
O martelar inconstante da dor de cabeça de Deus.

De cá do quarto ao lado eu o escuto.
De cá de além da parede de tijolos, cimento e duas camadas de tinta.
Eu o escuto.
Martelando.

Por que diabos pensa tão alto?
Será que não aprendeu a calar a cabeça?
Será que Deus, bêbado e velho, não se cansa de praguejar e amaldiçoar seus filhos ingratos que o trancam e o condenam a uma vida eterna de mesquinhas orações e pedidos em papeis queimados e dízimos de pobre em dinheiro suado e sujo.

Por que diabos pensa tão alto e não me deixa dormir em paz?

- Cala!
- Cala-me!

Tito de Andréa.