terça-feira, dezembro 16, 2008

Lillith

A ti,
Que de todos os pedaços, despedaça-me em menores ainda.
Que de todos os desejos, metamorfoseia-me em grandezas que desconhecia.
Que de tudo que sou, ainda mais, mesmo que aos poucos, mesmo que forte, mesmo que grande, mesmo que cansada, entediada, Viva.

A ti,
Que se cansa e descansa com a leveza de um sono de tarde.
Que chora à noite, sorri de dia e não sabe saber mais.

Que se mostra sem rosto, sem lágrimas; nua.
Que toca e transtorna o monstro-eu-que-nunca-senti.
Que mata e resgata os choros em colos.
Que recolhe e, enfim, cura as dores, tão mais minhas que do mundo.

Que esperneia infâncias e que derruba fronteiras do além-ver.
Ácidos e bases da alma.

A ti,
A quem foi prometida as terras de velhos mundos, velhas fronteiras sem terras e pomares frutíferos de frutas que não provarei.
Que repete mantras sem cor-nem-sabor, e que vela noites claras.

A quem primeiro foi sono, depois insônia e depois puro amor.
A quem foi primeira e segunda e então ensolarados sábados preguiçosos e lentos domingos.
A quem foi dado o tesouro, e que não o escondeu.

A ti,
O amor que prometeram a Adão e Eva e esconderam por mero capricho de uma culpa suculenta e velada:
- Temos vergonha, Senhor.

A ti perdões e maravilhas.
Mares, Ares e Afrodite.

A ti, enfim,
Meu eu.

Tito de Andréa

domingo, dezembro 14, 2008

Dentro do Arco-íris

Arrancar do peito essa noite que canta para poder sentir esse silêncio descantado e descampado onde a fera me enxerga de olhos viventes e carnifissantos.

Incendiado.

Abraça-me com suas garras flamejantes nesse incêndio de savana.
Nessa dança-da-chuva-que-não-cai-nem-pára.
Nessa morte-da-vida-que-não-sobe-nem-cansa.

Nessa forca pendular que treme e convulsiona o corpo.

Entendimento.

Eu não estou pronto ainda
Abrir os olhos, encontrar-se e compreender-se como um simples descontinuar de pensar e dormir. E viver apenas no intervalo dos sonhos.
Nos espaço aberto entre um olho e a vista;

Um fluxo de pensamento.

Imagem, som e significado.

Cérebrismo.
Abrircabeçasecomeroquenãosepodevêr

Abrircabeças
e ver

Que não.

Arrancar da noite esse sol que não queima.
Arrancar do sol essa vida que não morre.

Arrancar esse algo que rasteja e sobrevive, formigamento da membrana que une o que não pode ser resgatado.
Arrancar de mim esse pedaço rejeitado. Alma de abortado, dirão.
Eu não refutarei

Jamais.

Não...
Não...
Não...

Fragment
ar
,

Emergir
Respirar
Eu não vi isso chegando.

Era incêndio e agora inundação.

Afogamento.
Fotosensibilidade.
Fogo sob a água.

Debater de braços
Respirar água
Tossir vento
Mudar

Venha então
E me abraça com esses dentes
Eu não estou pronto ainda...

Tito de Andréa