segunda-feira, outubro 27, 2008

In Finitude

Antes de entrar no luminoquarto onde sangrei o resto de meu nome, tire os sapatos.
Despudorados pés impudicos para estuprar a terra e manchar o sujo.
Desavergonhados pés para dançar e celebrar a frágil sangria que comemorei.

Antes de entrar no recinto luminoso onde depenei minha alma e quebrei seu pescoço convulsivo, retire-se de si.
Desmaculado corpo orgíaco para fecundar a carne e embotar o barro.
Desmaculado corpo de meus dias.
Todo sujo de vida.

Antes de romper o hímen de minha vista. A fina,vibrante e inocente película que envolve e apazigua o pecado.
Antes de rompê-lo...
Ama-me...
Antes de romper
Abraça.

Antes de sentir o frígido tremeluzir de meus orgasmos, antes de soprar e cortar o fio da vela, antes de morrer uma justa e memorável vida, arranca os tendões da carne e deita ao chão tua pele; que te quero sem mácula.
Que te quero sem mancha.
Que te quero sem alma.

Antes de deitar teu nome morno ao mármore, depõe contra a corda neural de teu feto, depõe contra a espinha de tua mãe, mata e marca teu Abel.
Caim
E Adão.

Antes de lançar teu resto de morte às mãos do feitor, tira fora os sapatos.
Tira fora os sapatos e entra em minha festa viva e pulsiforme.
Há penas neurais após.
Há dores temporais após.

Mas tira fora teus sapatos e suja teus pés no caldo primordial que inunda tua casa.
Nesse sangue que escrevemos e que já lavou as ruas tantas vezes.
Nessa irmandade siamesa que temos com o mundo.
Abraça a membrana venosa que te liga ao teu canceroso irmão.
Melhor morrer.

Antes de enfim dizer que está pronto;
Rompe as cortinas de tuas costelas,
Rompe as retinas de tuas manhãs.
E encara
A infinita mortalha

Cobre tua nudez e vai;
Descalço.

Tito de Andréa

quarta-feira, outubro 22, 2008

Almar

Não qualquer um.
Não.
Pegue minha mão e venha para que eu mostre o que está desperdiçado.
Amor e sol.

As portas da percepção,
Blake diria,
São infinitamente finitas.

Microcosmo.
Macropoesia.
Micro

Só crê
Quem vendo
Escreve.

Uma alma aveludada e jardinflorida.
Uma alma.
Lamalmado.

Uma alma armada e pronta
Sempre pronta
Para o despreparo.

Uma alma cemitério
De portões
Sempre
Rangentes

Dentes.

Não qualquer um.
Não Pensamento agora quando tudo é Tato.
Não Sono agora quando tudo é Sol.
Não Sombra agora.
Não Saber agora.
Não agora.

Dulcíssimo.
Superlativíssimo.
Moisés abrindo as cortinas do sangue.
Moisés chovendo pão do céu para alimentar o bezerro.

Eu vi primeiro.
Eu toquei primeiro.
Eu fui antes.
Eu
Amei.

Não qualquerum.
Qualquer um agora que a hora é má.
Vamos em má hora.
Vamos.

Para qualquer coisa que se
Pinte
E pense.

Tartarugas são feitas de
Carne e
Cascas.

Não qualquer um.
Abrir a mão
E nãosabersol da sombra.

Saber o
Não ser.

Não Morte agora que tudo é.

Tito de Andréa

segunda-feira, outubro 06, 2008

Liana

Perdi-me em ti
Em tuas curvas e luas
Em tuas unhas e dedos
Meus medos.

Perdi-me em ti
Em teus sóis e anzóis
Teus seios e anseios
Meus dedos

Perdi-me em ti
Em teus cabelos e pêlos
Teus olhos - iluminando minha solidão
Meus mortos

Perdi-me em me encontrar em ti
E apenas encontrei-me mais e ainda mais
Pois em ti há
Aquilo que não vi.

Meu eu no teu
E de mim a ti
Pois de mim, em mim
Apenas sobra
Você.

Tito de Andréa