Micropoemas IV

Trigonometria

Quanto
Ângulo cabe
Num único olho
Quanta vista perdida
Num único, perdido e arrependido;

Piscar?

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Ver

Despi teu olhar.
Nu

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Favela (de palavras)

Nos espaços
Em branco
Amontoam-se
Sem
Provável
Sentido.

____

Para não dizer que não falei de mim

Esperar, também é saber.
Eu?
Desaconteço.

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ReDrummond

Mundo, vasto mundo
Queria dize-lo,
Mas tenho um coração pequeno.

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Cardiovascular

Bate.

Bate...

E pára.

Para mim, para ti.
Pára o mundo.

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Oftalmologista

Lá, acolá
E após.

Assim.
Melhor ou
Pior?

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Círculos

Em ir e vir.
Voltar.
Eu vivo.

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Momento

Cabe no ato
De morrer,
Toda uma vida
Cativa.

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Vespas*

Na casa
De minhas irmãs
Deschove.

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Vitória

Perder também é
Uma forma de ganhar
A vida

Mesmo que morta.

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Liana II

Em teus olhos negros
Reencontro o ar
Que – propositalmente –
Perco.

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Tito

Em um descontinuo continuar
Prossigo.
Nem sempre
Em frente.

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Santo Graal

Jazem em algum lugar
Os ossos
Daquele que não morreu.

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Cimento e tijolos

Murmuro
O
Soco
O murro
E a
Parede.

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Horizonte

Há
Além da vista
Mais vista
E vida?

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Liana III

Em teus olhos
Um universo
E nele
Infinito.

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Jantar

Sobre a mesa
Os pratos
E neles
A fome.

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Confuso

Damos as mãos
E vamos
Dois cegos
E um abismo.

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Recorte

Em minha pele:
Um pedaço
Do teu toque

___

Oftalmologista II

Melhor
Ou pior
Não sabe o cego.

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Insonia II

Toda madrugada,
Encerra em si,
Um microdia.

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Ecos

Vivo as quedas
Amo as quedas
Vivo às quedas.

Cair
foi tão
B-O-M.

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Verdade

Cortaram-lhe os dedos
Mãos e língua
E ele falou.
Com os olhos.

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Eutanásia

Não quero
A cura.

* poema feito para meu único entendimento.

Todos por Tito de Andréa.

Tarde Cinza

Firme e fria,
Chuvosa e cinza
Cai a tarde,
Sobre teus cabelos;
Nus.

Cai como caímos,
De pés descalços, morro abaixo;
Velhas e doentes crianças;
Terminais.

Cai, e nela cabe
Todo o mundo,
Todo mundo,
Em uma urna
De cinzas.

Cabe em uma raiz,
De árvore nova,
Teu corpo fervido,
Febre e convulsão.

Apenas para recomeçar.

Vai e, sobre nós, desaba a chuva
Deitando a tarde em nossos colos
Como uma leve vida
Vinda
Não bem.

Tito de Andréa

Tarde Verde (escuro)

Há no concreto, estampado
O rosto de um homem
Fixo e simples,
Eterna testemunha.

Há nos olhos do cão,
Uma mais que verdade verdade.
Mais que completa solidão
Compressão.

Há no retângulo disforme
De mato vivo e espesso
Nas vespas e gotas que pairam,
Um resto, mesmo que morto.

O fim do vento vem a mim,
E em mim também, há o resto de algo.
Da janela e da flor;
Folha.

Eu, minhas filhas e irmãs
Com os restos de cores perversos
Assistimos ao escurecer da tarde;

Verde.

Tito de Andréa

Tarde Verde (claro)

Reside em meus pés,
Nos dedos da velha,
Em seus ossos tortos,
Nas barbas do homem,
Fios brancos;
Lentos

Nas árvores pálidas
Desbotadas, atadas
À tela

No brilho fosco
das gotas de éter que pairam
Na luz cansada,
Nos homens e mulheres, indo e vindo
em meu ar.

Reside leve,
Nas frias paredes
Finas e limpas;
Estéreis.

Nos ares calados,
Na moldura vazia,
Dos olhos que não choram,
Reside

O cheiro doente da tarde;
Verde

Tito de Andréa

Tarde Azul

Na árvore e no medo estarei,
Sentado diante de tua janela,
Assistindo-te pentear os cabelos
Vivo e vivendo, sempre.

Calado e calando o silencio,
Estarei,
Sempre doente, sempre descrente
Pálido,
Azul e cinza.

Sempre rasteiro
Sorrateiro
Teu ladrão furtivo,
Favorito.

Sempre deitado, como um gato
Preguiçoso e pontiagudo
Ferirei tuas pernas, colorir-te-ei
Com meus sorrisos.

Sempre vendo e revendo,
Teu amanhecer vespertino
Teu sono velado
Sonâmbulo.

Sempre derramando sobre ti,
As frias mãos que te pertencem
Como se fossem de mim
O presente que anuncio.

Tito de Andréa

Tarde amarela

Quebra a queda
E abre os braços,
Lento e morno
Dia de novembro.

Anda e cobre com poeira dourada
A tarde preguiçosa
Que se deita sobre nós
Calmamente.

Manso e humilde
Recém-acordar,
Recorta de cores
Os cortes da pele.

Sacode dos cabelos os grãos de prata que recobrem a noite
Das folhas levo o aroma e o tato
Das folhas levo o verde despertar
Levo a carne e a seiva
Sacode dos cabelos a lua que se prendeu

Salva o salto
E do fundo chama a sombra
Que sobe murmurante,
Silenciosa
Amorosamente, rósea.

Desprende de tua pele a peleja do sangue
Os deuses que nela se prenderam no entardecer de tua sacada
Desprende de tua fronte os sonhos que se embaraçaram em teus cílios
Desprende de teus dedos os restos de terra.

É teu por direito o crepúsculo frio
o gélido vento do norte,
o dia que fica ao sul, vai sumindo ao leste.

É a tarde que morre,
vermelha.

Tito de Andréa

Micropoemas III

Constelação

Teu sol,
Tão só
No meu
Céu.

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Amor

Teu eu,
no meu.

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Recorrente.

Em meus sonhos,
sempre só.

Só
Solidão.

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Chuva.

Todo meu eu
despenca.

Sempre, circular.

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Onisciencia

Guardo aos homens,
O saber morrer.

Deus não sabe.

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Quebra

A palavra
é o centro
de mim

Em mim.

Universo.

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Suicidio.

De mim
para mim

O fim.

Todos por Tito de Andréa.